Pequenos cortes

28-02-2013 20:49

Em minhas empreitadas culinárias, tenho colecionado além de experiências gastronômicas, uma série de marcas causadas pela minha quase total inaptidão com qualquer coisa que tenho que segurar com as mãos.

Os cortes e queimaduras são uma parte um tanto desagradável das minhas aventuras na cozinha, mas acabaram por fazer parte, espero que por pouco tempo, dessa experiência tão divertida e inspiradora.

Entre essas marcas, teve uma que incomodou bastante, foi um pequeno corte na ponta do dedo, causada por uma faca malvada!

Era tão pequeno, quase imperceptível, mas tão chato, causava tanto incomodo, que mesmo tentando esquecer-me daquele detalhe, volta e meia, algo caía bem em cima magoando e fazendo doer o que eu teimava em desprezar.

Foi aí que me lembrei de outros cortes, outras queimaduras, outras feridas, aquelas que são imperceptíveis, os machucados que carregamos em nossa alma. Talvez também assim, bem pequenos, aparentemente sem importância, uma bobagem qualquer, mas que insiste em doer.

Esses cortes podem ter sido causados por uma inabilidade como a minha. Seja a dificuldade de perdoar, ou talvez nos falte a habilidade em sonhar. Há muitos, porém, que ao se depararem com suas inaptidões, preferem desistir, por medo de se machucarem deixam de lado o prazer de “cozinhar”.  Outros, entretanto, se tornam inconsequentes e insensíveis aos seus próprios limites, não conseguem enxergar que por conta de suas inabilidades os cuidados devem ser maiores, e quem sabe até deva pedir ajuda a quem é mais hábil.

Pode ser que você esteja fazendo como eu, reclamando daquela ferramenta que te feriu, esquecendo-se que ela foi útil por tanto tempo, e que a culpa não foi dela, mas fomos nós que não soubemos usar. O amor, a amizade, a fé, a esperança, a gentileza e tantas outras são as ferramentas da alma. Que se usadas corretamente podem fazer deliciosos pratos para o banquete da vida.

Um desentendimento, um pequeno tropeço, uma fala impensada, uma tentativa frustrada, pode até parecer irrelevante, mas podem deixar suas marcas em nosso coração. E agora, mesmo tentando esquecer-se, ignorar, deixar para traz e prosseguir, não conseguimos, qualquer coisa machuca e magoa a pequena ferida, impedindo que cicatrize.

Aprendi com meu corte, que nem sempre podemos deixar pra lá, que tem momentos que se faz necessário parar e cuidar do que nos perturba, do que dói em nós.  Também entendi, que há um tempo para que os cortes cicatrizem, que mesmo cuidando, devemos ter paciência até que o que antes provocava dor se torne no máximo uma pequena marca do que já passou.

Assim, não despreze seus pequenos cortes, se sua alma dói, cuide dela!

 

 

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Rebeca Barros rebeca.neri@gmail.com