Mais um, que vira menos um
Mais um final de semana chega ao fim. Mais uma família experimenta o começo de uma dor que perdurará por muito tempo. As lágrimas serão o alimento de mais uma mãe. Um pai a mais, verá os sonhos que compartilhava com seu filho amado, vir ao chão. Mais um jovem morre nesse Brasil. Mais uma foto nas redes sociais é trocada por aquele tenebroso símbolo de luto. Menos um futuro, menos um amigo, menos uma pessoa para mudar o mundo.
Na TV, rádio, jornais, nas conversas de padaria, nas manchetes de sites de noticias da internet, no primeiro horário do expediente entre as conversas do final de semana,. Por todos os lados noticias tristes nos chegam. Tanta vida jogada fora, tantas possibilidades agora recebem um ponto final. Com certeza, uma das maiores tristezas do mundo é a morte de um jovem.
Mas apesar do choque causado pela noticia do fim de uma vida, que mal começou, parece que nada aconteceu. Os bares e mercados ainda vendem bebidas alcoólicas para adolescentes. Os pais ainda permitem e incentivam que os filhos estejam em lugares inadequados para sua idade. Os organizadores de eventos investem pesado para que suas festas estejam ainda mais badaladas para atrair os recém-saídos da infância. Os traficantes já perceberam que esse é um ótimo público. E as leis ainda estão flexíveis para os que estão matando os nossos meninos e meninas.
Não estou falando aqui das transgressões próprias do ciclo de vida da adolescência. O que me choca é vê cada vez mais histórias serem interrompidas sem razão. E mais assustador ainda é perceber que estamos nos acostumando com isso. Fatalidades podem acontecer, mas devem ser uma exceção, mas o que tem ocorrido no Brasil é uma realidade sociocultural cruel, que tem interrompido muitos sonhos, seja causando morte física ou destruindo as perspectivas e esperanças de muitos dessa geração.
Dizemos: “Meninos são apenas meninos.”. Mas e nós os adultos, o que estamos fazendo para proteger esses meninos.
Se eles não estão maduros para tomar suas decisões, se a inconsequência é uma marca própria da adolescência, se eles ainda estão em formação, eles precisam de nós. Dos nossos ouvidos e da nossa compreensão. Precisam de espaço e de limites. Precisam de liberdade e de amor. Precisam que nós os guiemos e que lhes apontemos o caminho com nosso exemplo.
Mas ao invés disso, achamos que eles precisam de tabletes, celulares caros e roupas de marca. Pagamos o preço que for para que nossos filhos frequentem os lugares mais na moda. Enchemos suas mãos de dinheiro e quando eles começam a dar trabalho achamos menos custoso levarmos para um psicólogo dar um jeito, do que gastarmos o nosso precioso tempo e paciência para ter um diálogo franco com eles.
As escolas culpam os pais, os pais culpam a sociedade, a sociedade diz que não tem nada a ver com isso. Enquanto isso a criminalidade, as drogas, os inúmeros acidentes de transito causados pela bebida, e o pior o suicídio, estão devorando uma geração.
E de quem é a responsabilidade então?
Está mais do que na hora de cada um de nós, nos posicionarmos por esta geração. Eles precisam de nós!