Aonde eu piso, já foi rio, hoje é pura sequidão. Por essas margens, vida fluía, tanta beleza por aqui havia. Seu esplendor despertava o encanto dos visitantes, e a admiração dos habitantes.
Não se engane, não é o sertão que descrevo. Essa é a triste visão de um desesperançoso coração. Nesse lugar já houve um rio de vida, Mas agora a terra está rachada, levou pra longe os que por aqui andavam.
O riso e a alegria que daqui emanavam, agora são apenas lembranças distantes; tudo se foi. O que outrora era festa, jardim de sonhos, fontes de afeto, cascatas de felicidade, transformou-se em lago de cinzas, veredas de infelicidade, mangues de frustração e solidão.
Fazia um tempo que a chuva da amizade havia cessado, e que o orvalho do amor já não caía ao amanhecer. Houve algumas queimadas causadas pelo fracasso e pela frustração, e assim dia após dia, o medo, a dor, a desesperança tomaram aquele coração. Sobrou quase nada, uma terra empobrecida, uma flora quase sem vida, restara apenas o contraste do que antes havia. Mas os olhos do esperançoso viram um filete de água, e a boca do otimista proclamou em voz alta: ainda não acabou!
Brava esperança, na fraqueza encontra força, do fim faz recomeço, com o pranto rega sua semente e para o desacreditado canta o cântico do vitorioso.
Ôh, coração rescequído, ouça a voz do profeta, deixe que essa nova estação te traga novas chuvas, e que possa em ti habitar de novo toda a beleza da vida, florescendo a alegria, e que todos possam se saciar nas tuas doces fontes.