O ar condicionado e um ato de coragem

09-04-2014 22:20

Entrei naquela sala de aula,  envolta por uma nuvem de expectativas e medo. Aquele era o primeiro dia na faculdade. O chão negro contrastava-se com as brancas paredes da sala. E pesadas cadeiras, muito bem acolchoadas, foram estrategicamente colocadas em forma de U.

Acomodei-me em um lugar que não chamasse muita atenção. E não demorou muito para que eu percebesse que havia sentado em frente ao terrível ar condicionado. Logo eu, que tremo meu queixo a qualquer prenuncio de brisas mais fortes.

Aquela não foi uma escolha totalmente ruim. Na cadeira atrás da minha, encontrei uma preciosa amiga. Nós duas caminhamos juntas durante toda a graduação e firmamos uma  bela amizade.

Entretanto o calor da nossa amizade, não conseguia dissipar o frio que nos torturava. Imagine só, sair nos quentes e abafados dias de Salvador carregando um casaco. Passávamos por desequilibradas fácil, fácil. Mas mesmo com nossos frequentes pedidos, os colegas do outro lado não aumentavam a temperatura do ar por nada.

O frio da sala castigava, a vergonha me impedia de ser mais enérgica naquela situação. Até que um dia, como todos os demais dias, fui a primeira a chegar à sala. Sentada no meu lugar cativo, preparava-me para o frio, para os espirros da alergia, para as mãos que logo estariam se apertando em busca de um pouco de calor. Vi então, todas aquelas cadeiras vazias, e eu ali esperando que por um milagre algo mudasse o rumo daquela incomoda história que durava alguns meses.

Pensei:

- E por que não mudar de lugar?

Peguei meu caderno, minha bolsa e pulei para um lugar de temperatura mais agradável. Logo os colegas chegariam, e como tomados de espanto perceberiam que algo estava diferente. Confesso que ri, ao perceber que cada colega que chegava, tinha que procurar um novo lugar para sentar.  Parecia até um efeito dominó, um a um, ao ver seu lugar  acomodando outro colega, tinha que sentar-se em um novo lugar.

Meus ouvidos, quase supersônicos, ouviam os murmúrios dos que se achavam donos das cadeiras que eu e Sarah ocupamos.  Não posso negar, que senti um pouco de prazer naquilo, havia sido minha vingança silenciosa, a todos os torturadores do ar condicionado.

No resto do curso mudei-me varias vezes de lugar, buscando o lugar mais confortável para estar.

Naquela manhã, entendi o poder que tem um pequeno ato de coragem. Tantas vezes, nos acostumamos com o que nos incomoda e nos prejudica, deixamo-nos torturar pela frieza que a vida nos impõe, ao nos tornarmos cativos a uma infeliz escolha. Deixamos que nossos dias s se tornem sem graça e sem expectativas, e esperamos passivamente que um milagre aconteça.

Mas talvez tudo o que você precisa é tomar uma pequena atitude. Mudar, decidir, corrigir, experimentar algo novo. Pular para as cadeiras do outro lado, que muitas vezes não achamos que são para nós. Sentarmos na cadeira da felicidade, do conforto, da transformação, da liberdade, dos sonhos, ou seja, lá, qual for à cadeira que parece ser um desejo inalcançável.

Que tal mudar de cadeira? Que tal dá um basta aos seus torturadores? Que tal ser livre dessa frieza?

Basta um pequeno passo!

 

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Rebeca Barros rebeca.neri@gmail.com