Noemi e Rute

"Não insistas comigo que te deixe e não mais a acompanhe. Aonde fores irei, onde ficares ficarei! O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus! Onde morreres morrerei, e ali serei sepultada. Que o Senhor me castigue com todo o rigor, se outra coisa que não a morte me separar de ti! "

Rute 1:16-17

É interessante pensar que uma das frases mais usadas nos convites de casamento, na verdade é uma declaração de amor e de aliança entre uma nora e sua sogra. A fala de Rute chama a atenção não só pela força e determinação do coração da jovem, mas também por ser direcionada a uma figura que por muitos é tida como de difícil convivência,  com quem quase sempre se tem um relacionamento complicado.

Eu sei que estou sendo muito generalista, e que há muitas sogras e noras que se dão muito bem. Mas ainda assim, a atitude de Rute é marcante, ela e sua sogra decidem se unir e trilhar aquele novo caminho, de dor e até de humilhação juntas.

Mas o que as uniu tanto?                                               

Penso eu, que a dor que elas compartilhavam era tão grande e tão presente, que as tornava mais próximas. Por saber como era difícil a dor da morte, de perder quem se ama, Rute era misericordiosa com Noemi, e mesmo a sogra sendo um poço de amargura, Rute decidiu permanecer ao lado dela, destilando esperança e doçura.  Por sua vez, Noemi, conhecia o sofrimento, sabia quão amarga e difícil a vida poderia ser, e por isso ela servia de renovo e de direção para sua nora, ela agia com  compaixão com Rute.

Mais além da dor, outro ponto as unia, o amor. Elas amavam um mesmo homem, que era filho de Noemi e esposo de Rute, o amor que elas tinham por ele, provavelmente as levou a um relacionamento mais amigável. Elas não eram competidoras pelo afeto daquele homem, mas o amor em comum extravasou pela relação delas. Além disso, imagino eu, que aquele “cara” deve ter sido um bom mediador nessa relação, ensinando sua esposa a amar sua mãe e vice-versa.

Novamente encontramos a dor e o amor modificando caminhos, unindo destinos, traçando novas histórias. Rute e Noemi nos servem de exemplo, de como podemos nos unir a outros pelas vias da dor e do amor. Desenvolvendo em nós misericórdia, compaixão e empatia. Que somos capazes de sermos os instrumentos de Deus para transformar “fontes de amargura” em rios de esperança. Ou quem sabe, para orientarmos os tristes de espirito e os desacreditados a reconstruírem suas vidas.

A fala apaixonante e sincera da jovem Rute foi apenas o inicio para uma longa e preciosa jornada de fidelidade, companheirismo e cumplicidade. O relacionamento daquelas mulheres foi o lugar que Deus encontrou para agir e mudar os rumos daquela triste história. Que Deus nos dê sensibilidade, capacidade e força para fazermos as alianças corretas e para sermos na vida de outros como Rute foi na vida de Noemi e como Noemi foi na história de Rute.

E no final constataremos que o sábio acertou mais uma vez: “é melhor serem dois do que um.”.